Crítica
Desencontros tornariam vidas não vividas?
Por Jader Galam Ruivo | 04/02/2024
Minha nota:
Filmes dependentes de sutileza normalmente parecem mais vazios quando não as bem observada, e Past Lives não foge disso. À primeira vista pode parecer lento, cansativo ou até mesmo vazio quando não se capta as nuances, porém, o longa indicado ao Oscar é belo demais.
Acho que é uma tarefa mais do que árdua conseguir assistir Past Lives sem sentir uma coceirinha na garganta sequer. A estreante (sim, ESTREANTE) diretora Celine Song conduz a história de Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo), dois amigos de infância que se separaram por circunstâncias da vida, e 12 anos depois conseguem se reencontrar por redes sociais e passam a manter contato por chamadas de vídeo.
O roteiro, também de Celine Song, mostra como o tempo destroça as lembranças, e faz um bom trabalho ao mostrar a passagem do tempo e como os dois personagens amadurecem e depois se reencontram. O reencontro em si é apresentado de forma alegre, sem forçar nenhuma emoção entre eles, tudo parece natural.
O longa mostra que com o tempo, o amor, que um dia é leve e suave, torna-se um peso silencioso. Promessas e suspiros acumulam-se, transformando laços em nós difíceis de desatar. O que antes era leve como penas agora pesa como âncoras cortantes, revelando-se um fardo que machuca com o passar dos dias.
A química entre Greta Lee e Teo Yoo é o destaque de todo o filme. O casal está emocionalmente marcado pelas desavenças em suas vidas, o que só é mostrado na tela através dos olhares entre os atores. O longa sabe usar o simples silêncio como uma ARMA com muitas balas, é muito cortante, machuca, mas fala mais do que mil palavras.
O terceiro ato é lindo e doloroso, não precisa de uma bela cena de beijo ou de um “eu te amo” para entender o que um quer dizer ao outro. Como eu disse, o silêncio vale mais que mil palavras.
Past Lives é belo, concreto, triste e machuca, e com maestria consegue nos provar que o passado visto pelo ponto de vista do presente nos dá uma saudade imensa ao ver que ele valeu a pena, e que encontros e desencontros acontecem e às vezes é difícil demais não deixar se levar pela dor. Belo e astronômico.