Crítica
Tão claustrofóbico quanto o buraco de uma agulha
Por Jader Galam Ruivo | 15/07/2023
Minha nota:
Baseado na obra-prima literária do rei Stephen King, o filme conta a história de Jack Torrance, interpretado magistralmente por Jack Nicholson, um escritor em busca de isolamento e inspiração, que aceita o trabalho de zelador no isolado e enigmático Hotel Overlook durante o inverno rigoroso. Ele se muda para o local com sua esposa, Wendy, interpretada de forma necessária por Shelley Duvall, e o filho, Danny, vivido de brilhantemente por Danny Lloyd. O hotel, com sua arquitetura gótica e história sombria, assume quase um papel de protagonista, um personagem vivo que reflete os tormentos internos de Jack.
A narrativa é construída de forma lenta e implacável, aumentando a tensão gradualmente à medida que os personagens são envolvidos pela atmosfera opressiva do hotel. Kubrick utiliza magistralmente a música, ou melhor, a ausência dela, para criar uma sensação de desconforto e inquietude, além de enaltecer os sons ambientes, aumentando a sensação de claustrofobia.
A direção de Kubrick é uma verdadeira aula de cinema, com sua composição visual precisa e simbologia rica em significado. Cada cena é meticulosamente planejada, e a cinematografia é uma maravilha a ser apreciada. Desde os icônicos corredores repletos de sangue até o labirinto gelado do jardim, cada cenário é habilmente concebido para imergir o espectador em um pesadelo psicológico.
Jack Nicholson entrega (na minha opinião) a maior atuação da história do cinema como Jack Torrance, oscilando entre a ternura e a loucura de forma assombrosa. Sua interpretação é a personificação perfeita da decadência humana, enquanto ele mergulha na loucura induzida pelo isolamento e pelas forças sobrenaturais do hotel. Shelley Duvall também merece destaque, retratando a vulnerabilidade e o desespero de Wendy de maneira visceral e cativante.
A dualidade entre o terror psicológico e as forças sobrenaturais é um dos aspectos mais fascinantes do filme. O Hotel Overlook torna-se um espaço assombrado por fantasmas do passado, e Kubrick nos leva por um labirinto de ambiguidades, questionando a sanidade dos personagens e do próprio espectador.
O Iluminado é gigante demais para ser resumido a um “filme de terror”. É uma análise profunda da natureza humana, abordando temas como a perda de identidade, a obsessão, a loucura e a relação entre pais e filhos. A atmosfera onírica e a narrativa enigmática transformam a experiência em um mergulho nas profundezas da mente humana.
O Iluminado é uma obra-prima cinematográfica que transcende o gênero de terror. Com a maestria de Kubrick por trás das câmeras e as performances memoráveis do elenco, o filme permanece como uma das produções mais perturbadoras e impactantes da história do cinema. Talvez Stephen King exagere um pouco dizendo que Kubrick ‘acabou’ com sua obra… mas ele pode, aliás, mestre é mestre, né?