Crítica
Tão triunfal quanto 45 anos atrás
Por Jader Galam Ruivo| 16/08/2024
Eu gosto de fazer um exercício complicado, porém bem legal, que é tentar entender o que se passava na cabeça do Ridley Scott quando surgiu a ideia de Alien: O Oitavo Passageiro lá em 1979. Será que o diretor sabia que estava criando ali a Ellen Ripley, de Sigourney Weaver, a primeira heroína da história do cinema? Ele sabia que estava marcando ali uma das principais divisões da história da cultura popular? Marco esse que viria mudar toda a trajetória de filmes lançados nas décadas seguintes até os dias de hoje.
O final dos anos 70 foi o magnum opus da ficção científica na cultura pop, de um lado George Lucas nos bombardeava com Star Wars: Uma Nova Esperança, do outro Ridley Scott vinha com Alien: O Oitavo Passageiro. Franquias essas que em tempos atuais perderam sua força total (em qualidade, não em popularidade). Pelo menos até o dia de hoje.
Depois dos fracassos dos últimos filmes Prometheus (2012) e Alien: Covenant (2017), os detentores dos direitos da saga Alien resolveram jogar esse novo filme na mão de um diretor novo.
E assim surgiu Alien: Romulus, dirigido pelo excelente uruguaio Fede Alvarez. Diretor este que brilhou em A Morte do Demônio (2013) e Homem nas Trevas (2016). Ridley Scott retorna como produtor, porém, não escreve a história desta vez, que também fica por conta de Alvarez.
Um grupo de amigos está cansado de viver em um planeta cujo as pessoas são escravizadas na questão trabalhista e resolvem então se mudar para um planeta menos pior. De que forma? Com um cargueiro de mineração que eles usam no trabalho, porém, para iniciarem a viagem eles precisam das câmaras criogênicas que eles usariam para fazer a viagem em suspensão animada e corporal. Onde conseguir isso? Em uma estação destruída, denominada de Romulus, que está passando por cima do planeta que eles moram.
Fede Alvarez é um baita diretor talentoso, quando perguntado sobre o porque colocar o terror de volta na franquia Alien, Alvarez diz: “Não estou aqui para reinventar a roda, não quero fazer algo inovador. Estou aqui para fazer algo que dê certo, eu sou um fã dirigindo um filme da minha franquia favorita, então eu quero o que eu, como fã, gostaria de ver no cinema”. E assim o fez, após diversos filmes da franquia puxados para o gênero de ação, este longa aqui é o puro terror setentista que Ridley Scott trouxe à tona no primeiro filme da franquia.
Corredores escuros, claustrofobia, luzes vermelhas piscando, a incrível e desesperadora sensação de não saber o que vai acontecer mas ter a certeza de que algo não está certo é a pura veia principal da franquia, e temos tudo isso de volta aqui.
Alien: Romulus expressa o primeiro filme aqui em vários sentidos – e faz isso muito bem -, na trilha sonora, na montagem, na ambientação, quase que em todas as veias centrais do longa, ‘Alien: O Oitavo Passageiro’, está presente. E isso poderia ser um problema, o que aqui está longe de ser; Fede Alvarez faz dessas referências pistões pulsantes para o desenrolar da história e imersão, funcionando para fãs e apreciadores do filme de Ridley Scott e também para aqueles que nunca o assistiram, nunca caindo no poço de parecer ser o mesmo filme que o original.
Entrando em questões técnicas o filme é muito bem construído, a mescla da escuridão quase que total com as luzes (artificiais) é muito bem executada. A câmera passeia pelos corredores, sem se intrometer muito a fundo nos personagens pois essa função está a cargo deles mesmos, contar tua própria história e sentimento através do roteiro e atuação. Elenco este que não é estrelado, poucos atores conhecidos, como já é de praxe da carreira de Alvarez, porém, todos eles entregam em perfeitas condições o que teu papel pede, dá para ver que o diretor escolheu a dedo cada um ali.
O roteiro do filme é todo feito em causa e consequência: preciso disso? preciso; vou até lá buscar? vou; pode ter algo lá? pode; tem algo lá? tem. E assim vai, porém, essas causas e consequências são medidas pelos protagonistas? Não, pois aquilo não é uma opção para eles, e sim, uma necessidade: ou eles fazem, ou eles fazem.
Alien: Romulus é um filmaço jogado no meio de um ano que 90% das produções foram decepções, é também um filme cujo essa franquia estava esperando há 32 anos, é Ridley Scott e James Cameron na mesma medida, é o silêncio e o ensurdecer em paridade, é o rápido e o contemplativo lado a lado, é o brutal e o cativante do mesmo lado. Acima de tudo: é cinema.