Assassinos da Lua das Flores

Killers of the Flower Moon
2023

Assassinos da Lua das Flores

19 de outubro de 2023 / 3h26 / Crime, Fatos
Direção: Martin Scorsese
Elenco: Leonardo DiCaprio, Robert De Niro, Lily Gladstone
Título Original: Killers of the Flower Moon

Killers of the Flower Moon (2023) on IMDb

Crítica

A melancolia épica de Martin Scorsese

Por Jader Galam Ruivo | 15/02/2024

Minha nota:

É difícil citar um filme ruim do Scorsese, a cada obra que é anunciada o meu interesse é instantâneo. Já é mais que um fato que ninguém conta uma história como o próprio, desde as máfias dos anos 90 como ‘Os Bons Companheiros’ e ‘Cassino’ passando pelo exímio suspense ‘Ilha do Medo’, dançando sobre o ácido de ‘O Lobo de Wall Street’… é, acho que deu, né? Atualmente, em 2024, Martin Scorsese se torna o cineasta vivo com mais indicações ao Oscars.

Baseado no livro homônimo de 2017 escrito por David Grann, o filme conta a história real dos assassinatos de membros da nação indígena Osage que haviam posses de terras prósperas e lucrativas devido ao petróleo, sendo assim invadida por homens brancos com interesses lucrativos.

Killers of the Flower Moon

Eu acho que essa história contada por Scorsese em Assassinos da Lua das Flores funciona mais ainda pra quem não a conhecia, é aquele típico caso como ‘Um Crime de Mestre’ de 2007, ou até mesmo ‘Seven’ de 1995, que quando termina você simplesmente deixa o queixo cair e solta um honesto: “uau…”

Scorsese traz novamente a Thelma Schoonmaker para a montagem do filme, que é brilhante. A montagem do longa faz com que cada momento que a ‘olho nu’ parecesse inútil, ser na verdade importante demais. Sempre tem algo rolando, sempre tem algo no fundo (do cenário e da trama), nunca é um vazio.

A fotografia deixa o filme lisinho, ele nunca chega ao ponto de ser maçante, e quando parece estar chegando ele muda drasticamente de uma hora pra outra. Eu acho impressionante como o longa sabe usar a “ausência” como aliado, seja ela apenas uma paisagem bela, ou um silêncio que vale por 1000 palavras cujo o olhar fechado e recluso importa mais do que tudo.

Assassino da Lua das Flores é um filme do Scorsese de 200 milhões de dólares, dá para ver isso, o design de produção é impecável, todas as locações, os ambientes, efeitos práticos e digitais e é claro, o fato do diretor ter chamado atores indígenas para viver personagens indígenas.

O filme é dedicado à Robbie Robertson, o compositor da trilha sonora, que faleceu em agosto de 2023, tendo a trilha do longa como seu último trabalho feito. Trilha essa que é em muitos momentos ausentes, mas quando aparece ela te deixa inquieto, as notas graves, as notas propositalmente desafinadas, mesmo quando é uma cena “vazia”, a música sobe e deixa claro o significado da cena.

O longa tem 3h26m, é MUITO longo, mas não é longo demais. Sim, há uma linha tênue entre ser muito longo e longo demais, afinal, não dá para negar que 3h26m de filme é longo pra caramba, mas ele não é longo demais, não são mais de 3h porque o diretor quis e sim porque precisava, e se tem alguém que sabe fazer um filme de 3h26m parecer um filme de 2h é o Martin Scorsese. Eu acho isso super bacana, pois quando olho para nossa “Geração TikTok” e vejo que as pessoas hoje em dia não conseguem mais ver um vídeo que ultrapasse 1 minuto ou ao menos ver um filme sem ficar o tempo todo olhando para o celular, sabendo que o Scorsese ainda faz esses brutamontes de filme me deixa feliz. O filme tem seus 3 atos claramente bem divididos, sendo um deles os assassinatos, o outro as investigações e o outro relação de personagens, não necessariamente nesta ordem citada.

Leonardo DiCaprio tá ótimo, amei as camadas, a complexidade de seu personagem e como ele reflete tudo isso em cena. Ele poderia ter feito uma atuação simples, aquele cara que obedece regras, depois é babaca, depois faz algo que deixa todos boquiabertos, mas não, ele sabe deixar muita coisinha entre as camadas, muito desenvolvimento metódico entre linhas e ele não deixa nada muito óbvio.

Lily Gladstone é o puro significado do filme, na minha opinião é a melhor atuação feminina do ano. Eu não a conhecia e fiquei IMPRESSIONADO o quão boa essa mulher é, já pode dar o Oscar pra ela. Eu sempre bato na tecla de atuações minuciosas, até porque eu AMO minuciosidade no cinema, e ela é brilhante nisso, me faz lembrar um pouco da Cate Blanchett em TÁR, aquela pessoa que brilha nos pormenores, que não tem AQUELA cena de grito e desespero, mas 99% do tempo fala pelo olhar. A melhor coisa que podemos observar em uma interpretação é quando você esquece que é uma interpretação.

Falar bem do Robert De Niro é chover no molhado né, brilhante mais uma vez, que interpretação sensacional… Sabe aquele cara bonachão que à primeira vista parece apena um cara chato inofensivo? É exatamente isso, o personagem de De Niro é muito venenoso, manipulador, mas principalmente falso. Ele consegue fazer com que o personagem dele seja aquele tipo de cara que te dá a mão e te ajuda enquanto ri da tua cara e esfaqueia tuas costas. Aqui nesse filme ele me faz lembrar aquele personagem de ‘O Senhor dos Anéis’, aquele que fica do lado do rei envenenando o rei, contando mentiras, manipulando e o rei fica lá só paralisado, tudo isso só que muito mais. É claro que recentemente o De Niro fez uns papéis muito bobos como ‘Um Senhor Estagiário’ com a Anne Hathaway ou aquele ridículo ‘Tirando um Atraso’ com o Zac Efron, e Assassinos da Lua das Flores é a prova de como um ator consegue ser levado à maestria quando ele é bem dirigido, não dá para negar o cara é um dos maiores atores de todos os tempos.

Assassinos da Lua das Flores é épico, dramático, pesado, seduzente, e o mais importante: é a prova irrefutável de que Scorsese é o maior diretor em atividade, um mestre cuja arte não carece de validação, pois sua grandeza fala por si mesma.

Assassinos da Lua das Flores – Trailer

Filmographia

O seu site de crítica de Cinema

Home
Filmes
Notícias
Quem Somos
Letterboxd

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima