Crítica
Aliás, as pessoas não tem saco para complexidade
Por Jader Galam Ruivo | 26/02/2024
Minha nota:
Thellonious Monk é um escritor que está frustrado após ver que seu último livro vai mal nas vendas, pois é “complexo” demais, assim, ele escreve um novo livro super simples e explícito, cheio de clichês sobre a comunidade preta norte-americana e vende milhares de cópias.
American Fiction é o primeiro longa do Cord Jefferson e isso fica meio claro pra mim quando vi pela primeira vez. E de forma alguma isso é ruim, afinal, American Fiction é um ótimo filme pra um estreante, mas eu consegui respirar um pouco do ar de inexperiência que tinha ali.
O longa é meio que um mix de uma sátira melodramática e um drama de natureza, o roteiro é muito bom em dosar essas duas coisas numa balança bem ambígua, fazendo o longa brilhar em momentos cômicos e brilhar mais ainda em momentos dramáticos envolvendo família e amigos.
Como eu disse, a direção de Cord Jefferson não surpreende, porém é boa. Ela faz o necessário, é perspicaz, ágil, certeira e é muito íntima. Íntima no sentido de conseguir abordar com movimentos de câmera certeiros e closes no personagem Monk qual a situação pessoal dele e o que passa na sua cabeça.
O elenco é maravilhoso, Jeffrey Wright consegue encarnar aquele escritor rabugento e desanimado com a situação das pessoas no mundo ao ver que o mais simples é o mais cogitado, e toda a tua vontade de fazer algo autoral e complexo vai por água abaixo. Sterling K. Brown é o melhor ator presente no longa, ele interpreta Cliff, o irmão de Monk, que é o melhor personagem do filme, ele é gay mas sem ser caricato, ele é ácido sem forçar a barra e é engraçado como poucos. Ambos os atores estão indicados ao Oscar de Melhor Ator e Melhor Ator Coadjuvante, respectivamente.
American Fiction é um filme bom, legal e divertido, e ele mesmo consegue provar que não precisa ser complexo demais para ser bom ou indicado ao Oscar. O longa não surpreende, mas também não deixa a desejar, vale a pena demais.